Silêncio, por onde anda você?


Já reparou como o mundo anda barulhento?
Ou será que é só ao meu redor que os barulhos tem sido cada vez mais invasivos?
Ou será ainda, que estou ficando menos tolerante?

Não descarto esta última possibilidade. Mas também já ouvi de outras pessoas a mesma reclamação, o que me faz crer que não é só a minha intolerância que me leva a essa constatação.

Aqui no prédio em que moro, o barulho, quando não vem do vizinho de cima arrastando seus móveis estrondosamente a qualquer hora do dia e da noite, vem de obras que quebram tudo e arrebentam junto os meus tímpanos! Quando uma obra termina, outro vizinho resolve que é a sua vez de incomodar um pouco, quebrando umas cinco paredes. Saio daqui e já vejo motoristas buzinando impacientemente, só para terem a ilusão de que se pode controlar o trânsito dessa maneira. Quando vivia em um outro bairro menos movimentado, e morava numa casa, a coisa não era nada diferente. Lá havia o som de mal educados portadores de sons automotivos. Sem eufemismo nenhum, a minha sensação era de estar no meio do inferno, com todas as labaredas e ranger de dentes que descrevem! Mas mesmo quando vou um pouco mais distante, para um lugar em meio à natureza, vira e mexe me deparo com pessoas que abrem seus carros para deles saírem suas músicas bem altas e irritantes ou mesmo outras que ligam seus celulares, aparelhos de "mp3-4-5-6-7" (sabe-se lá que números mais) com autofalante para tamparem o silêncio vivo da natureza.

Outro dia, tive que me levantar para ir até um casal que resolveu entrar na sala de cinema para colocar a conversa em dia, fui até lá para pedir silêncio (tá, estou ranzinza), porque todos os "shhh" de várias pessoas na sala de cinema não foram o suficiente para que eles ligassem o "desconfiômetro". Onde estão o silêncio, o bom senso, a educação, o mínimo de cortesia e percepção de que se vive em sociedade? Devem ter ido embora no último foguete que a NASA mandou pro espaço.

Como disse, não descarto mesmo que parte de meu incômodo seja pura rabugentisse, porém não posso deixar de perceber a extrema dificuldade que temos de encontrar silêncio. Mais que isso, parece haver por trás disso tudo uma dificuldade da maioria das pessoas em suportar o silêncio.

As pessoas parecem não dar conta do silêncio. Esse silêncio que pode fazer tão bem à mente que vive em atividade, que nos ajuda a asserenar, a encontrar um espaço dentro de nós, esse silêncio que nos permite a entrar em contato com os ritmos mais suaves da vida... Ah, ele anda escasso, muito escasso.

E junto com o silêncio, parece estar entrando em extinção o respeito à privacidade alheia. É comum ao estarmos num ônibus, ouvir dois ou mais aparelhos ligados com músicas em altos volumes.

Dá vontade de pedir para parar o mundo, porque eu quero descer! Ou me levem no próximo foguete da NASA!!!


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Por Juliana Garcia
Psicóloga, psicodramatista, escritora, colaboradora da Revista Personare, coordena atividades voltadas para saúde e bem-estar no Espaço Revitalizar em Belo Horizonte-MG.

Primavera: um convite ao florescer


Prestando atenção à natureza veremos como vivemos num manancial de riquezas, cheio de sentido e significado. Observar e sentir a natureza é voltar ao seio de nossa existência, é nos reintegrarmos, pois somos parte dela também. Há algum tempo, escrevi um artigo sobre o outono e busquei demonstrar como cada estação do ano nos convida a diferentes posturas e nos oferece ricos aprendizados. Com a chegada da primavera, trago um novo convite de reflexão.

Assim como o outono, a primavera é uma estação de transição. Ela representa o tempo da despedida das frias paisagens e do preparo para entrar no tons quentes do verão. As flores são a marca principal da primavera. A natureza desabrocha e se enfeita para nos mostrar que um novo ciclo se inaugura.

Vai embora o gelo, o cinza, o tempo de recolhimento e a natureza se revela multicolorida. É o tempo de acasalamento, reprodução, fertilidade, beleza e abertura. A natureza resistiu aos tempos secos e frios, resistiu à letargia e à hibernação, mostrando que a vida permaneceu latente e agora se refaz.

Em nossas experiências podemos passar por momentos hibernais, em que tudo ao nosso redor está frio e aparentemente sem vida. Seja por situações de perdas, decepções ou pelo simples desaquecimento da roda da vida, momentos de pausa que chegam e se instalam. Nesses períodos algo de muito belo pode acontecer, se optamos por resguardar nossos dons preciosos, sem perdermos as esperanças. Vamos concentrando nossa energia, até que um dia uma nova brisa pode soprar e anunciar que o gelo vai derreter e a grama verde que havia por baixo dele irá se revelar.

A nova estação chega assim, com promessa de inteireza, de luz, de brilho, de aromas renovados, de cantos de pássaros namorando no alto das árvores, de vento levando pólen para fertilizar os campos, de borboletas voando ligeiras com tantas flores para pousar. No tempo da alma, a primavera se assemelha ao momento de lançar nossas ideias, de deixar o ar de novos tempos ventilar nossas mentes e corações, de abrir espaço para que o novo brote. Abrir as janelas da alma, para que o aroma embolorado do inverno se dissipe e o perfume das flores faça morada em nós. É a temporada de nos abrirmos, de acreditarmos em novas possibilidades, de nos encantarmos com a beleza dos pequenos detalhes que passaram batidos nos dias cinzas.

Mas para viver a intensidade dessa temporada é necessário exercitar a entrega. É preciso deixar ir o inverno, acreditar que outras experiências são possíveis. Acontece que muita gente ao passar por invernos rigorosos da alma, se esconde por longos períodos em suas tocas, acreditando que não pode mais sair ou, caso contrário, será consumidos por uma nevasca. Se aguçarmos nossos sentidos, no entanto, podemos ouvir o canto dos pássaros lá fora e ver que raios tímidos de sol entram pelas frestas. É preciso entrega, é preciso acreditar, é preciso lançar nossos pólens no ar. Pense e se responda: O que está impedindo que você viva a estação da primavera da alma?

A primavera convida: abra-se, permita-se, aproveite as oportunidades dessa brisa nova, relacione-se, sinta a beleza que há lá fora, deixe seu perfume único exalar de dentro para fora, não tema as abelhas, deixe que elas a toquem levemente e polinizem a vida!

Pense naqueles projetos guardados, nas habilidades contidas e deixe que tudo isso desabroche.

Lembra-se daqueles hábitos ranzinzas? Vá se despedindo deles, à medida que lança atenção para outros aspectos da vida ou lança um olhar diferente para os mesmos aspectos. A primavera te convida a renovar, abrir, sentir, florir!

Se vai demorar muito ou pouco tempo para você vivenciar a plenitude dessa estação, ninguém tem a resposta pronta. Mas o jardineiro com certeza está dentro de você, à espera que o deixe agir para enfeitar o jardim, trazendo a nova vida para seu redor.



Publicado em:

http://www.personare.com.br/revista/identidade/materia/1779/primavera-um-convite-ao-florescer


Compartilhando uma notícia que me deixou bem feliz!
Esse artigo está em destaque hoje (23/09, chegada da primavera) na página inicial do MSN!!!


Por Juliana Garcia
Psicóloga, psicodramatista, escritora, colaboradora da Revista Personare, coordena atividades voltadas para saúde e bem-estar no Espaço Revitalizar em Belo Horizonte-MG.

O exercício do perdão


A cada dia que vivo e aprendo com a vida, mais se reforça para mim a constatação de que o perdão vai bem além de uma atitude localizada e isolada, de que ele se aproxima de um exercício. É um conjunto de atitudes que vamos tomando e reavaliando, construindo novas interpretações da vida, descobrindo e escolhendo novos ângulos. O perdão integra uma série de ações internas e externas e precisa de tempo para se assentar.

As mágoas nos prendem ao passado e nos fazem temer o futuro, retiram o poder do presente e a abertura a vivê-lo. Ocupam lugar no nosso coração fechado, tornando difícil que outras emoções, outras histórias, outras experiências de vida possam florescer. Um coração cheio assim é um coração que se aproxima da realidade só pela metade. Então vamos ficando amargos, não só pelas vivências de mágoa, mas também pelo fechamento criado que faz com que nossa vida afetiva murche, e junto com ela nosso viço, nossa alegria, nossa disposição, nosso impulso criativo.

Muitas pessoas relutam em pensar em perdão por acreditarem que isso significaria abrir guarda a pessoas e situações que lhe fariam sofrer. Seguem vida a fora carregando suas histórias de sofrimento como se fossem escudos: "Agora ninguém me fará mal novamente, eu tenho essa história para me proteger". Só que esse escudo é pesado demais, grande demais e impede a visão plena, parece ser um grande espelho atrás do qual a pessoa se esconde e só vê os reflexos de si mesma com sombras do passado. Esse escudo não só protege de situações ameaçadoras, ele acaba por impedir qualquer tipo de contato e nos isola de nossa natureza humana relacional.

"Mas se eu não guardar minha história de dor, ela não será reconhecida, como se um pedaço meu fosse deixado de lado", algumas pessoas podem dizer. Sim, é importante reconhecermos cada pedaço de nós, mas não precisamos carregar as dores como se fossem troféus pesados numa sacola enorme. Precisamos reconhecer nossas cicatrizes como marcas do combate, mas sem peso e dor.

Certa vez ouvi uma frase que clareou bastante para mim o significado mais profundo do perdão: "O verdadeiro perdão consiste em abrir mão da esperança de que o passado fosse diferente". Então, não é escancarar a porta da minha casa e da minha vida para quem me fez mal? Nem esquecer o passado? Pois é, o perdão que abre o coração é aquele que reconhece que o passado passou e que nada pode mudá-lo. Somente o presente bem vivido pode inserir novas pegadas nessa estrada. Perdão inclui ainda a necessidade de reconhecermos que nós também fizemos o que podia ser feito, o que demos conta de fazer, dentro das possibilidades que vislumbrávamos: autoperdão. Nos reconhecermos humanos, passíveis de erro e de acertos na tentativa do aprendizado.

Não se trata de varrer a poeira para debaixo do tapete. É na verdade um exercício de ver e sentir tal poeira do passado, identificar de onde vem e onde está. E, então, começar a limpá-la, se necessário buscar ajuda para isso, usar todos os recursos disponíveis para deixar a casa limpa e aberta para a brisa fresca dos novos tempos. Um coração que se abre para reconhecer e tratar de suas mágoas é um coração livre para bater de novo, no ritmo das emoções que surgirem aqui e agora.


Publicado em:

http://www.personare.com.br/revista/voce-hoje/materia/1465/o-exercicio-do-perdao


Por Juliana Garcia
Psicóloga, psicodramatista, escritora, colaboradora da Revista Personare, coordena atividades voltadas para saúde e bem-estar no Espaço Revitalizar em Belo Horizonte-MG.

Vá em busca do que lhe faz bem


Já reparou como as plantas buscam pelo sol? Em vasos que deixamos em ambientes internos, menos iluminados pelo sol que o ambiente externo, percebemos isso ainda mais facilmente. Os galhos da plantinha vão se direcionando para onde há mais luz. Elas se entortam, se contorcem, usam toda a sua capacidade de se moldar para ir em busca do elemento que lhes oferece energia e vida. Da mesma maneira, elas também apresentam a tendência de aprofundar as suas raízes para buscar por água e outros elementos essenciais na terra. Seguindo o fluxo natural da vida, as plantas buscam por aquilo que as fornecerá a energia vital para seguirem cheias de força, multiplicando o verde ao seu redor. Seu impulso é voltado para viver bem, cheias de potencial para multiplicar a vida, crescer, desenvolver flores e frutos saudáveis.

E nós, seres humanos, estamos em busca daquilo que nos mantém cheios de vida e recarregamos nossa energia para isso? Responda por você. Você tem ido em busca dos elementos que lhe fazem sentir-se mais vivo? Estes elementos podem ser aqueles ambientes, pessoas, situações, escolhas, estados saudáveis que lhe auxiliem no crescimento. Você se direciona para eles? Busca por eles e os mantém acesos em sua vida? Sim, porque às vezes a gente até busca, mas não mantém a chama viva, vamos nos envolvendo na correria do cotidiano e perdemos de vista o essencial.

O que faz seus olhos brilharem? Quais companhias colocam você para cima, lhe incentivam a ser você mesmo e torcem pelo seu crescimento? Que escolhas falam mais alto ao seu coração?

Quais hábitos são verdadeiramente importantes e lhe fariam ter uma vida mais plena?

Seja sincero e avalie como você tem levado a vida. Sempre há tempo para mudar de rota. Retome aqueles caminhos que apontam para o que tem a ver com você, que lhe permitem ter mais espaço para criar, para ser você e se sentir plenamente realizado, caminhos que sejam prazerosos e também acrescentem sabedoria e crescimento a cada passo.

Reflita e faça como a plantinha, que mesmo nos menores vasos e mesmo que você se esqueça de aguá-la de vez em quando, ela se vira daqui e dali para se aproximar daquilo que a fará se manter saudável, cheia de vida e de energia para continuar espalhando sementes.


Publicado em:

http://www.personare.com.br/revista/voce-hoje/materia/1719/va-em-busca-do-que-lhe-faz-bem

Por Juliana Garcia
Psicóloga, psicodramatista, escritora, colaboradora da Revista Personare, coordena atividades voltadas para saúde e bem-estar no Espaço Revitalizar em Belo Horizonte-MG.

Você tem medo do novo?


O medo do não controlável, do que surpreende, que chega sem ser convidado ou aparece de onde não se espera, o medo do novo e do desconhecido é uma das grandes dificuldades humanas. A possibilidade do novo costuma acionar alarmes, provoca angústia, tira o prumo. O contato do desconhecido desperta muitas vezes a sensação de estar pressionado sem saber direito de onde vem essa pressão. Mas pensando com calma, a gente sabe bem de onde vem: vem de dentro pra fora, vem dos nossos arquivos internos que acabam por acionar o padrão do medo a qualquer pequeno sinal de algo que possa retirar o pleno controle de nossas mãos.

Os arquivos internos que acionam o medo contêm muitas cenas, histórias, aprendizados, apreensões, que relegamos aos cantos escondidos da alma. Quando encontram espaço em nossa distração, esses conteúdos sobem à tona. E como estamos distraídos, acabam por tomar conta de nós e nossas ações. Por mais irracionais que sejam, nossos medos assumem o controle. Já que nos sentimos tão perdidos naquele instante entregamos o leme ao primeiro que chega. Reflita e você verá com mais clareza quais são os arquivos que despertam esse medo em você. Se for difícil refletir sozinho, já que o medo pode começar a lhe turvar a visão, procure ajuda adequada. A força desses arquivos internos está no fato de serem inacessíveis. Quando são vistos e compreendidos, não precisamos mais cair na armadilha. E mais que isso: podemos curar as antigas feridas.

O novo, apesar de todo medo que pode despertar, carrega sementes em sua mala de viajante. O desconhecido chega com seu olhar enigmático, mas o que ele trará para nossa vida depende muito da recepção que lhe oferecemos. Ele vem daquela curva da estrada que não sabemos onde vai dar, ao vermos sua silhueta o coração dispara e nesse exato instante podemos ainda escolher que tom terão as nossas batidas: expectativa, raiva, pavor, alegria, curiosidade... Sim, podemos escolher como reagir às novidades que chegam, mesmo que muitas vezes não possamos escolher a hora de sua chegada. As sementes que esse viajante incógnito traz é que tecem a teia da vida, que trazem o colorido inesperado e o ingrediente essencial para os próximos passos a serem dados.

Sem o elemento da novidade não haveria caminhada, nem arte, nem projeto, nem construção, sem o elemento do desconhecido não haveria construção de conhecimento, nem progresso, nem crescimento. A grande certeza da vida, sabe qual é? É que sempre há mudança. Você agora já não é mais o mesmo após os minutos que se passaram durante essa leitura. A água que corre no rio é do mesmo rio, mas já não é mais a mesma água. Somos seres constituídos pela mudança e precisamos aceitar a correnteza da vida, nadando ao seu favor, pois é o novo que nos faz seguir a diante. Liberte-se das amarras que fazem com que você anseie ficar na falsa proteção do passado, pois não há segurança em não seguir o ritmo natural da vida. É preciso entregar-se ao presente, sem medo e sem necessidade de pleno controle. Só assim, embora pareça contraditório, você pode tomar de fato a vida nas mãos.

Mas se você se preocupa em dominar o desconhecido, em destrinchar todas as possibilidades para então se entregar ao movimento da vida, se o medo em você tem se transformado em extrema racionalidade, compartilho aqui um convite que um dia recebi nas palavras de Clarice Lispector: “Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”.


Publicado em:

http://www.personare.com.br/revista/identidade/materia/1177/voce-tem-medo-do-novo

Por Juliana Garcia
Psicóloga, psicodramatista, escritora, colaboradora da Revista Personare, coordena atividades voltadas para saúde e bem-estar no Espaço Revitalizar em Belo Horizonte-MG.

Está cansada de ser boazinha?


Boa parte das mulheres é educada para ser boazinha. Essa educação inclui as obrigações de sempre dizer sim, ser obediente, ter os chamados “bons modos”, não dizer o que pensa, abaixar a cabeça, não questionar. Alguém nos disse que quanto mais boazinhas formos, mais elogios e aprovação ganharemos. E vamos aprendendo que só isso basta. Resumindo, é o que nos diz o célebre ditado: “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.

Deixamos de lado a insatisfação, engolimos em seco a indignação, calamos o desejo, deixamos para depois nossas necessidades, tudo por acreditarmos que o que mais importa é a aprovação do outro. Um primeiro erro está em acreditar que a aprovação é pagamento garantido por todos os nossos sacrifícios. Na maioria das vezes, nem reconhecimento obtemos, não é verdade? O problema é que vira um ciclo vicioso, em que quando não ganhamos aprovação, mais boazinhas queremos ser até conseguir um pequeno elogio que seja. Mas se ganhamos aprovação, aí também queremos ser mais boazinhas, para continuar a sermos vistas com “bons olhos”. Nessa segunda perspectiva há outro erro: apostar nessa aprovação que se baseia na negação de quem somos.

Nessas situações o que o outro está vendo não é a nossa verdade, mas sim a nossa máscara. Sabemos bem que não é tão simples se libertar de um processo complexo de aprendizado que nos foi passado durante toda a vida. Dá um frio na barriga dizer não, o medo da rejeição parece engolir você por inteiro e a sensação de culpa pode ser enorme. De tanto alimentar as fantasias, acreditamos que elas são verdadeiras. Por isso, fica difícil dar o primeiro passo. Fica difícil desapegar daquilo que acreditamos nos dar segurança.

Desafiar nossos velhos e conhecidos padrões pode ser difícil a princípio, mas com certeza o resultado é compensador. A cada novo passo nos fortalecemos e geramos um ciclo virtuoso (e não vicioso), onde cada pequena vitória nos dá mais ânimo para o passo seguinte. Experimente dizer não às pequenas coisas que lhe desgastam e lhe fazem se sentir mal. Diga não à programação que não lhe agrada, abandone o sapato que lhe machuca, não atenda ao telefone na hora inoportuna, deixe de lado a vergonha e procure aquela atividade que você gostaria de iniciar, diga não ao pensamento de inferioridade, demarque os limites.

É preciso tornar-se consciente de si mesma, se conhecer, se reconhecer para conseguir escolher o momento de dizer sim o de dizer não. Além disso, é preciso assumir que a vida é feita de perdas e ganhos: não podemos agradar a todos, nem dar conta de tudo. Para manter um não, você necessitará de firmeza e tal firmeza que vem da autoestima e do vigor de se sentir merecedora da felicidade. É preciso resgatar seu poder pessoal!

Ser boa para você e menos boazinha para os outros é assumir uma postura adulta e assertiva. Ser boazinha é um termo que já carrega nesse diminutivo uma postura ligada ao pequeno, ao infantil, ao inferior. Trilhar o caminho da real bondade é se incluir nas considerações para fazer escolhas, é abrir-se para uma autenticidade nas relações.

Tanto um sim quanto um não bem dados (ou seja, caminhando em harmonia com aquilo que você é e aquilo que você sente) podem apontar para o caminho do ser e abre portas para verdadeiros encontros nas relações.
Tire o foco de ser sempre boazinha para os outros e seja realmente boa, compreensiva e amorosa consigo mesma, hoje, agora, já.

Publicado em:

http://www.personare.com.br/revista/identidade/materia/1283/esta-cansada-de-ser-boazinha

Por Juliana Garcia
Psicóloga, psicodramatista, escritora, colaboradora da Revista Personare, coordena atividades voltadas para saúde e bem-estar no Espaço Revitalizar em Belo Horizonte-MG.

Outono: tempo de perdas e ganhos


Se prestarmos mais atenção aos detalhes da natureza, perceberemos que cada estação do ano traz mensagens e convites específicos. No entanto, muitas vezes não conseguimos enxergar esses sinais porque insistimos em achar que não somos parte integrante do meio ambiente. Cada estação do ano nos convida a novas posturas e nos oferece uma série de aprendizados para a vida. O outono, é uma época especialmente recheada de significados que podem enriquecer nossas percepções. Esse período chega logo após o verão, aquela estação de tempo quente, aberto, de plena luz e em que nossos movimentos tendem para o mundo externo. Não é à toa que para chegar a uma estação intermediária precisamos das "águas de março", uma chuvinha persistente que vai resfriando o tempo aos poucos.
O outono é uma época de transição entre os extremos de temperatura verão-inverno. Qual é a principal imagem que lhe vem à mente quando pensa em outono? É bastante provável que a maioria das pessoas responda a essa pergunta lembrando da clássica imagem das árvores perdendo suas folhas. Mas você sabe por que acontece essa perda? Se as árvores não as deixassem ir, não sobreviveriam à próxima estação. As folhas se queimariam com o frio do inverno e, assim, os ciclos de respiração da árvore se findariam bruscamente, o que resultaria no fim da vida. A natureza nos mostra mais uma vez a beleza de sua sabedoria: é preciso entrega, é preciso deixar ir o que não serve mais, para proteger o que é mais importante.
O que a princípio pode parecer uma perda é na verdade um ganho: ela ganha mais tempo de vida, e chega renovada às próximas estações.
Reflita a partir disso: o que você precisa deixar ir, do que você precisa abrir mão para seguir firme para os próximos ciclos, para continuar a crescer? O outono é também estação de amadurecimento dos frutos. É o tempo de deixar ir inclusive os resultados de nossos esforços, para que novas forças possam gestar outros futuros projetos.
Durante essa época é válido observar quais elementos em você precisam ser sacrificados para que o mais sagrado para sua vida seja preservado ou resgatado. Pense na palavra sacrifício a partir de sua etimologia: é um sagrado ofício, um trabalho, uma ação que possui um caráter sagrado, para além do superficial, que transcende o banal, que tem um significado maior.

Publicado em:
http://www.personare.com.br/revista/identidade/materia/1327/outono-tempo-de-perdas-e-ganhos

Por Juliana Garcia
Psicóloga, psicodramatista, escritora, colaboradora da Revista Personare, coordena atividades voltadas para saúde e bem-estar no Espaço Revitalizar em Belo Horizonte-MG.

Igualdade Feminina


Em pleno século XXI, com crescentes tecnologias que interligam diversos pontos do planeta e até fora dele, que descobrem códigos da vida, que promovem cada vez mais avanços, ainda é preciso avançar muito em alguns quesitos ligados às relações humanas. Um desses pontos, em que temos muito o que discutir e refletir para avançar, diz respeito às relações de gênero, visto que a situação de mulheres no mundo inteiro ainda é de extrema desigualdade e desrespeito à vida humana.

Muitos passos já foram dados, é verdade. Hoje, em nossa sociedade, a mulher tem direito a voto, tem direito de ir e vir, tem espaço de expressão e proteção, pode se dizer dona do próprio nariz e do próprio corpo, tem galgado degraus cada vez maiores na formação educacional e sido vista mais atuante no mercado de trabalho. À custa de tantas lutas, muitas delas silenciosas, vamos ganhando o espaço que é nosso por direito.

Disputa por poder

Numa sociedade patriarcal o avanço feminino é visto com receio, pois estamos todos acostumados com um clima de disputa por poder. Temos a tendência em pensar em dicotomias, onde a única forma de superação da ordem vigente seria a tomada do poder pelas mulheres. Será esse o modelo ideal de sociedade: o poder nas mãos de um só senhor que sujeita os demais? Isso me lembra um ditado (que, se não me engano, é de origem oriental): “Na luta contra o monstro, toma cuidado para não te tornares igual a ele”. Precisaremos empunhar as armas do patriarcado para superá-lo?

Muitas conquistas políticas, sociais, civis e culturais ainda precisam ser alcançadas pela e para a mulher, mas a conquista mais almejada nos tempos modernos é a possibilidade de ser humana. Suplantar os modelos preestabelecidos e simplesmente sermos quem somos. Não tomar o lugar de ninguém, mas sim ocuparmos o nosso. Recorrer às potencialidades do Feminino para construção de uma sociedade mais justa e para uma vida mais inteira. Resgatar os valores de amor, de comunhão, de união, de cuidado.

As mulheres ganharam jornadas duplas, triplas... e perderam contato com a riqueza da própria alma. Para fazer parte do mundo patriarcal, adotaram o terninho reto e a postura rígida, esquecendo as ondulações de suas formas naturais. Esqueceram o contato com as coisas que lhe eram sagradas e que com o tempo ficaram banalizadas e esquecidas. Não é à toa que tantas de nós encontram-se adoecidas, desgastadas, tristes, sem energia. Assim como o mundo tem apontado os sintomas de que não suporta mais tanta exploração sanguinária de suas riquezas, as mulheres (seres intimamente ligados à matéria da natureza) também dão sinais de que já basta.

Diferenças e Complementaridades

É hora de reconhecermos o que de fato nos pertence. Reconhecermos as saudáveis diferenças entre homens e mulheres, que podem surtir lindas ligações e complementaridades, bem como é hora de reconhecermos a nossa natureza única de seres humanos, plenos de direitos e merecedores de felicidade, bem-estar e dignidade. Nos pequenos e nos grandes atos, que sejamos todos partícipes de um movimento pró-igualdade, pró-amor, pró-respeito a todo ser, ao feminino e ao masculino em harmonia.

Publicado em:

http://www.personare.com.br/revista/identidade/materia/758/dia-da-igualdade-feminina

Por Juliana Garcia
Psicóloga, psicodramatista, escritora, colaboradora da Revista Personare, coordena atividades voltadas para saúde e bem-estar no Espaço Revitalizar em Belo Horizonte-MG.

Você tem fome de quê?


Nada sobrevive sem se hidratar e sem se nutrir. Do tigre ao cactus, tudo que vive precisa de água e alimento para continuar a viver. Cada ser vivo com suas especificidades, mas com algo em comum: todos nós precisamos ingerir, digerir, metabolizar, converter algo em energia para seguir adiante até o próximo reabastecer.Além da fome do corpo, temos também outras fomes.

Nossa alma tem necessidades que precisam ser nutridas. Quando não respeitamos nosso ritmo biológico nosso corpo dá alertas. E o mesmo ocorre com nossos ritmos mais profundos: muitas vezes passam a gritar para terem alguma atenção. Se não escutamos, a fome permanece e acaba surgindo das maneiras mais tortas possíveis. São as nossas compulsões, o mal-estar, o choro sem razão, misteriosos estouros na pele, as alterações de humor e por aí­ vai. Aquilo a que chamamos desequilí­brio, dor, doença, pode muitas vezes ser um pedido de ajuda interno para que voltemos ao equilíbrio saudável.

Que tipo de fome você quer saciar?

Talvez tenhamos ingerido situações, palavras, sentimentos um tanto indigestos e precisemos metabolizar, ver o que nos cabe e jogar o restante para fora. Talvez haja uma perigosa abstinência de tudo que faz o coração bater mais vivo: amizade, carinho, compartilhar, compreensão, relação. É preciso ouvir para onde cada manifestação aponta: que tipo de fome/sede preciso saciar? Não basta um só copo d´água hoje para matar a sede de amanhã e um único pão também não é o suficiente para nos dar energia para toda a vida. Se teimamos em não nos fazermos essa pergunta fundamental acabamos sem energia, procurando nos saciar naquilo que não nos preenche. Estressados, adoecidos, mantemos escondida a nossa força.Na vida, não só deixamos de alimentar a alma, como muitas vezes procuramos o alimento no lugar errado.

Nunca se falou tanto em obesidade, magreza e distúbios alimentares como em nossos tempos. A obesidade que antes era vista como a comprovação de saúde e de um status daquele que era próspero, hoje évista com maus olhos, por diversos motivos. A magreza é exaltada e ganha seguidores que fazem de tudo, até apagarem o viço da alma, para seguirem o que é ditado como extremamente desejável. Junto a esse quadro, surgem diversos outros de distúrbios alimentares, demonstrando o descompensar de nossas fomes na atualidade: ou come-se tudo, ou come-se nada. Prazer e culpa ligados ao extremo.

Comida como punição ou recompensa

Estamos cindidos de nosso corpo, não reconhecemos nem seu poder nem suas necessidades, não acessamos as verdadeiras fomes que gritam em nossa alma. Lemos a necessidade de doçura na vida como necessidade de açúcar. Necessidade de amor contida acaba se confundindo com a necessidade de comida. Lemos a necessidade de sermos aceitos como ânsia de atender a padrões externos de beleza. A comida passa a ser usada como punição, negação, fuga, recompensa...

Muitas pessoas para se sentirem no controle sobre seus sentimentos (aqueles que não entendem ou que lhe deixam confusas) acabam por deslocar o descontrole para outro campo,desembocando numa relação de dor com a comida. Sendo a comida um símbolo de vida, todas essas manifestações acabam por negar a vida em sua plenitude.Se você se identifica com algo nessas palavras, é hora de retomar o verdadeiro controle sobre sua vida. Ir de encontro àquilo que possa realmente lhe fazer bem, ouvir suas fomes e atendê-las de maneira integrada e amorosa.

Procure por ajuda profissional, com o auxí­lio da psicoterapia você pode traçar o caminho da redescoberta de si. Entre em contato com seu corpo, aprenda a ouvi-lo. Entre em contato com sua alma, aprenda a ouvi-la também.

Não há resposta pronta que ninguém possa lhe dar. Então faça seu caminho:comece a refletir sobre a própria experiência, busque ajuda para descobrir as respostas que estão dentro de você. Busque meios que facilitem a mudança dos padrões que fazem mal, para deixar que a vida que existe em você possa fluir ese renovar. Não deixe para depois! Alimente o que lhe faz bem, agora mesmo!

Publicado em:
http://www.personare.com.br/revista/saude-e-beleza/materia/680/voce-tem-fome-de-que

Por Juliana Garcia
Psicóloga, psicodramatista, escritora, colaboradora da Revista Personare, coordena atividades voltadas para saúde e bem-estar no Espaço Revitalizar em Belo Horizonte-MG.

Não é preciso ser nota 10 em tudo


Quantas de nós aprenderam desde cedo a ser mulher pela via do cuidado com o outro? Muito cedo ganhamos brinquedos que são também símbolos do cuidado: as bonequinhas que imitam bebês e todos seus apetrechos são um importante exemplo! Sempre fomos incentivadas a nos comportar e a nos relacionar sob esse prisma: cuidar das bonecas, dos irmãos, das nossas coisas, da casa, fazer carinho, dar boas respostas, preocupar-se com as pessoas e por aí vai... Cada uma de nós também carrega em sua história modelos, nem sempre os mais saudáveis, vamos aprendendo e absorvendo informações sobre papéis, desempenhos, expectativas, cobranças, rótulos.

Nós, mulheres, nas últimas décadas, tivemos muitas conquistas. Ganhamos mais espaços além do âmbito doméstico, mas no pacote vieram junto mais responsabilidades! Mesmo com tantas mudanças ainda permanecem modos antigos de definições de papéis, aí que muitas coisas costumam se embolar. Acumulamos funções de 50 anos atrás, porém num mundo acelerado com mais afazeres e preocupações para a mulher moderna. Precisamos ser a “super mulher”, “super administradora do tempo”, “super amante”, “super esposa”, “super bela”, “super profissional”, “super mãe” e depois de tanto gasto de energia para manter os “super poderes” sobra muito pouco para cuidar de si mesma, para se fazer um agrado, para se observar com atenção. Vamos muito além dos limites em prol dos outros e acabamos fazendo muito pouco ou nada por nós mesmas.

Carregando o mundo nas costas

Fomos ensinadas a super proteger o outro e deixamos de encarar a humanidade do processo, ficamos cegas ao fato de que tanto nossos filhos são seres humanos quanto nós mesmas. Como seres humanos, todos temos fraquezas e também potencialidades. Apostando na incapacidade do outro também estamos nos tornando incapazes, na medida em que empreendemos uma caçada desenfreada ao que não está em nosso controle. Não precisamos tampar todos os buracos, não conseguiremos satisfazer todos os desejos, não seremos a solução para todas as questões e nem por isso nossos filhos deixarão de ser felizes!

Nesse afã de sermos “super”, ficamos sem força. Gastamos tudo nesses milhões de coisas a fazer e não escutamos o que há de mais profundo em nós. Carregar o mundo nas costas, abraçar o mundo com as pernas... Haja força e elasticidade! Será que sobra um pouquinho pra você mesma?

Se não ficamos atentas, entramos em outras canoas furadas como a síndrome de depender da dependência que o outro tem de nós ou a da culpa por não darmos conta de sermos tudo e um pouco mais.

A culpa nos faz enxergar que cuidar de si mesma implicaria em deixar de cuidar do outro e vira sinônimo de nosso temido inimigo: egoísmo. Quero aqui deixar alguns pontos bem claro: Em primeiro lugar, não precisa deixar de cuidar do outro. Essa é uma habilidade sua e provavelmente pode incluir um certo prazer (cuidar de quem você ama). A questão está em incluir outra qualidade em sua vida: cuidar também de você. Essa qualidade só se torna egoísmo quando a pessoa cuida SÓ de si mesma. Não é esse o convite! O convite é aliar a grande qualidade que você possui à outra, que tem sido um grande desafio para você.

Cuide de si mesma

Comece com pequenos passos: uma pausa quando estiver cansada, reservar algum dinheiro para comprar coisas para você, dedicar um tempo para marcar um checkup médico, marcar uma hora no salão de beleza, tirar uma ou duas horas para fazer um programa do qual você goste, realmente almoçar em seu horário de almoço ao invés de ficar só resolvendo problemas... Cada conquista lhe dará mais força na direção de um novo passo. Cuide dessa pessoa tão importante em sua vida!

Publicado em:

http://www.personare.com.br/revista/casa-e-familia/materia/526/nao-e-preciso-ser-nota-10-em-tudo

Por Juliana Garcia
Psicóloga, psicodramatista, escritora, colaboradora da Revista Personare, coordena atividades voltadas para saúde e bem-estar no Espaço Revitalizar em Belo Horizonte-MG.

Qual o seu jeito de ser mulher?

Confira um teste especial feito por mim para o Portal Personare:

"Qual o seu jeito de ser mulher?"

http://www.personare.com.br/revista/teste/qual-o-seu-jeito-de-ser-mulher

A riqueza de ser como se é

Muito se diz que a mulher é um ser misterioso. Quantos não gostariam de entender o que as mulheres querem e desvendar os sentimentos femininos? Talvez essa tarefa tivesse de partir, primeiramente, das próprias mulheres: conhecer os seus sentimentos, ir fundo na compreensão de seus mistérios, reconhecer a sua multiplicidade.

Carregamos no corpo o mistério do ciclo vida-morte-vida. Todo ser vivo também carrega essa experiência, mas o corpo feminino traz essa vivência à luz, torna explícito. Quer um exemplo? Vivemos tal realidade a cada ciclo menstrual. Primeiro vem a possibilidade de vida, a semente que é lançada. Se não é fecundado, o óvulo e todo o aparato de preparo do organismo são descartados, mostrando que não houve o nascimento de uma vida. Depois nosso útero se prepara para novos ciclos. Com tal movimento variamos também em nossa experiência íntima, com períodos de abertura e fechamento. Se compreendêssemos melhor esse ritmo em nosso corpo, talvez tivéssemos menos sintomas de tensões como a maioria das mulheres experimenta na atualidade. Aproveitando os momentos de fechamento para refletir, recarregar energias, planejar, se sintonizar. Aproveitando os momentos de abertura para agir, se expor, apresentar-se, ir à luta.

Energia contida

Compreender os ritmos internos e respeitá-los é um baita desafio para nós mulheres. Tão acostumadas fomos a calar nossos sentimentos e a seguir o ritmo do outro, que agora fica de fato difícil dedicar um tempo para ouvir a nós mesmas. Tanto tempo de silêncio imposto, que muitas vezes nossa alma só consegue nos mostrar como estamos nos trazendo sintomas. E mesmo assim, o que aprendemos? Uma mulher é incansável! Quantas de nós aturam dores crônicas protelando para amanhã o autocuidado?
De um ser pleno de riquezas, mistérios e belezas, quiseram moldar e construir um outro, mais domesticado, formatado, domado. A cultura patriarcal fez de tudo para conter a energia que assustava, para domar aquilo "que não tem medida, nem nunca terá" (tomando emprestadas as palavras de Chico Buarque). A energia feminina ia contra a ordem que se queria instituir: o controle, a luta por poder, o individualismo. Tentaram dobrar, amassar, rasgar a alma feminina, para fazê-la caber no baú de uma cultura inconsciente, para tornar o Feminino se não aceitável ao menos tolerável. Isso fez com que muitas e muitas mulheres brilhantes fossem tachadas como erros, aberrações e fossem punidas por simplesmente serem.

Multiplicidade e riqueza

O Feminino não se encaixa em padrões. Cada mulher é múltipla em suas faces e suas possibilidades. Temos luz e sombra, asas e raízes, sins e nãos, interno e externo, renovação constante, ondulações. E nossa riqueza está em sermos como somos.
Precisamos recuperar a autoestima, a alegria de sermos depositárias de tantas características naturais cheias de beleza. É urgente retomar o contato com nossos anseios e sentimentos, com nossa garra e nossa sensibilidade, com nossa intuição e nossa criatividade. Pense em maneiras de iniciar uma relação mais prazerosa com você mesma, mulher! Reconheça em si a união dos aspectos femininos e masculinos e potencialize o que lhe faz bem. Tome partido de suas múltiplas faces a seu favor! Não acredite em que lhe diga que você é o sexo frágil (nem se ouvir isso de você mesma!), retome a força interna que fez com que você chegasse até aqui! E dia da mulher não tem uma só data. Todo dia é seu dia, todo dia é especial, pois é o agora que se converte em possibilidades. Permita-se!


Indicação de livros que podem lhe ajudar nessa jornada:

Mulheres que correm com os lobos: mitos e arquétipos da mulher selvagem. De Clarissa Pinkola Estés. Editora Rocco.

A procura do Feminino. De Marisa Sanabria. Editora Ideias e Letras.

A mulher heróica: relatos clássicos de mulheres que ousaram desafiar seus papeis. De Alan B. Chinen. Editora Summus.


Publicado em:

http://www.personare.com.br/revista/identidade/materia/442/a-riqueza-de-ser-como-se-e

Por Juliana Garcia
Psicóloga, psicodramatista, escritora, colaboradora da Revista Personare, coordena atividades voltadas para saúde e bem-estar no Espaço Revitalizar em Belo Horizonte-MG.

Um, dois, três... Alto astral já!


Sabe aqueles dias em que precisamos de uma dose extra de energia? Tem gente que defende que todo mundo deveria ter à mão um manual de instruções para saber o que fazer quando a bateria acaba. Mas no fundo existe mesmo um manual, só que ele não está escrito, não pode ser tocado, nem lido literalmente. Lá num cantinho escondido da alma (escondido por nós mesmos) estão todas as diretrizes do que precisamos. É necessário se aquietar um pouco para escutar.

Pode ser que a sua bateria recarregue ouvindo uma música que você goste. E o tipo de música pode variar conforme o momento. Talvez a hora seja de relaxamento e você precise de uma música suave e instrumental. Para essas ocasiões adoro ouvir Marcus Viana, especialmente seu trabalho chamado Música das Esferas: cada CD apresenta músicas inspiradas na natureza e seus elementos terra, água, ar, fogo. Porém, o que escolher se o momento pede animação e entusiasmo? Aí a trilha pode mudar completamente. Há quem prefira ouvir sons mais dançantes ou cantarolar canções que lhe tragam boas recordações. Particularmente, Beyoncé após o almoço tem a capacidade de salvar uma tarde que poderia ser monótona! Talvez a sua bateria recarregue buscando outros estilos musicais, outros intérpretes, abrindo-se às novidades.

Sabe um filme que levanta meu astral? O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Um filme francês cheio de cores, que mostra pequenos detalhes do cotidiano, mostra o passo-a-passo de uma protagonista, que vivia isolada, partindo para a abertura às relações. E o seu filme favorito? Que tipo de filme deixa você para cima? Quem sabe viajar junto com Che Guevara no aventureiro Diários de Motocicleta? Ou mesmo curtir um desenho animado? É programa para gente grande sim! Dá para fazer uma lista extensa de desenhos super gostosos de assistir, que acordam nosso lado criança para perceber a beleza das pequenas coisas! Para citar um, vou com o recente Up: Altas Aventuras, da Disney- Pixar, uma história recheada de reflexões sobre amor e amizade, além de ser um convite a viver o momento presente. De quebra, dá para fazer um programa super divertido, levando às crianças ao cinema ou fazendo uma sessão pipoca em casa mesmo!

Visitar lugares cheios de luz, verde, aromas agradáveis também pode trazer ânimo extra. Precisamos de luz do sol, carecemos de refúgios secretos que nos façam entrar em contato com uma outra vibração mental... Menos correria, mais respiração.... Tem alguma praça ou um parque aí por perto? Já visitou? Lembre-se que você pode fazer outras viagens - ler é uma excelente maneira! Quem sabe lhe faça bem retomar aquela leitura que ficou pela metade? Ou ir em busca daquele livro, sobre o qual ouviu falar faz tempo, mas sempre deixou para depois?

Mais ideias: o que acha de chamar as pessoas queridas para tomar um sorvete, bater um papo, trocar ideias, ficar junto? Que tal organizar um jogo de mímicas? Costuma render boas risadas!
Já colocou seu corpo pra se mexer hoje? Alongar, caminhar, dançar... O que seu corpo tem pedido? Sair da inércia nos ajuda a ter mais ânimo para qualquer coisa. Mas lembre-se sempre de respeitar seus limites. Talvez seja hora de parar de movimentar um pouco, deixar o corpo descansar para voltar mais energizado depois para as atividades cotidianas. Um pouco de sombra e água fresca também recarrega as baterias, não é mesmo?

Como anda seu astral? O que tem feito para melhorá-lo? Nem sempre damos ouvidos à necessidade de reabastecer nossa energia ou não imaginamos de pronto o que poderia ser feito. E se tivéssemos por perto um lembrete, um guia? Se a gente começasse a acessar aquele manual interno? Pare um pouco e faça um lembrete do que é importante para você. Podemos chamar este lembrete de "lista do bem". Com caneta e papel em mãos, comece agora a fazer uma lista de tudo que lhe desperta o ânimo, as coisas que levantam o astral. Algumas dicas foram dadas, como pontapé inicial para a reflexão que agora precisa ser sua. Só você pode dizer do que gosta, o que lhe faz sorrir, o que lhe ajuda a se animar. Não deixe para depois! Alto astral já! Você merece.


Publicado em:
Especial "Viver com Sabor", parceria Kibon e Personare

http://www.personare.com.br/revista/viver-com-sabor/materia/380/um-dois-tres...-alto-astral-ja

Por Juliana Garcia
Psicóloga, psicodramatista, escritora, colaboradora da Revista Personare, coordena atividades voltadas para saúde e bem-estar no Espaço Revitalizar em Belo Horizonte-MG.

A terapia de fazer algo com as próprias mãos



Muitas pessoas dizem que não têm tempo ou não podem iniciar um processo terapêutico, mas muitas também não percebem as oportunidades cotidianas de se cuidarem. Falta ânimo? Coragem? Atenção? O fato é que vai se deixando para depois, sempre para depois.
Atividades simples do dia-a-dia possuem grande potencial terapêutico, ou seja, nos ajudam a nos sentirmos e sermos melhores, a descobrirmos outras possibilidades.Assim é o trabalho manual. Primeiro pela simbologia das mãos para todos nós: elas trazem a ideia de construção, poder, criação, energia. Expressões como "botar a mão na massa" mostram as mãos como detentoras da ação. Tanto que ao precisarmos de ajuda "pedimos uma mãozinha". E se é necessário pensar em autocuidado é hora de "tomar a vida nas mãos".

Criar com as mãos é a possibilidade de concretizar, de expressar, dar vazão à criatividade. Atividades simples como cozinhar, bordar, escrever, esculpir e pintar ficaram sem espaço em nossas vidas no meio da correria da atualidade. "Para que cozinhar se o microondas faz tudo? Para que bordar se compro tudo que quero no shopping mais próximo?" No meio da praticidade fomos perdendo contato com nossa habilidade ancestral de dedicarmos tempo e espaço para o processo de criação. Reservar um momento para transformar os elementos calmamente, passo- a- passo. Viver o aqui e agora, entrar num estado meditativo de atenção total ao presente.

Bordando entramos num processo de ligar pontos, de ir e vir, de acessar tramas. Isso facilita muitos insights, além da satisfação de ver nossas mãos dando vida a algo. O exercício de bordar é uma grande metáfora do trabalho de viajar pelos conteúdos guardados no nosso inconsciente.

Cozinhando experimentamos o prazer dos sentidos, somos magos da transformação dos estados físicos, dos sabores, das junções. Precisamos escolher, experimentar, aguardar. Vamos ponderando e exercitando a sabedoria da doação. Tem coisa mais gostosa do que ver pessoas queridas se deliciando com o que fizemos?
Esculpindo empregamos energia para transformar algo bruto em uma obra. Vamos abrindo espaço dentro de nós para outras transformações que precisam ser feitas, com essa mesma energia, com precisão e inteireza. Assim também pode ser a pintura: um exercício de transformação, ao mesmo tempo carregado de fluidez. A união das tintas, que quanto mais líquidas, mais nos ajudam a lidar com a necessidade de controle dentro de nós. Se tivermos dificuldade em lidar com a imprevisibilidade, se nos virmos escravos do controle, talvez aí esteja uma atividade importante para exercitarmos a possibilidade de lidar com o imprevisível, com o novo que nasce na junção das cores, das texturas.

Escrevendo vemos caminhos se formarem, as palavras vão se ligando, liberando sentidos que poderiam estar escondidos para nós. A escrita pode ter o dom de libertar aquele nó no peito. Ela libera, desata, coloca pra fora.
Não importa o resultado, mas sim a delícia do processo. A riqueza está no tempo que dedica a algo prazeroso para você. Pode ser que numa primeira tentativa o bordado seja meio torto, a comida meio salgada, o texto um tanto perdido... Mesmo assim, vale mais o momento de entrega. Com exercício vamos nos familiarizando e até obtendo resultados melhores. Não é assim também na vida? Escolha uma atividade que lhe chame a atenção e vá. Se você é faz parte do time que se priva de experimentar com medo de não agradar, talvez esteja na hora de se libertar e se entregar ao imprevisível do trabalho com as mãos. Comece por concretizar as transformações do lado de fora. Assim, naturalmente, as mudanças internas começam a acontecer! Mãos à obra!

Publicado em:
Especial "Viver com Sabor", parceria Kibon e Personare
http://www.personare.com.br/revista/viver-com-sabor/materia/360/simplicidade-ao-alcance-de-todos

Por Juliana Garcia
Psicóloga, psicodramatista, escritora, colaboradora da Revista Personare, coordena atividades voltadas para saúde e bem-estar no Espaço Revitalizar em Belo Horizonte-MG.

Que tal um pouco mais de ousadia?


No dia-a-dia criamos rotinas para facilitar a vida. Colocamos (ou ao menos tentamos) as chaves no mesmo lugar para acharmos mais facilmente na hora de sairmos de casa. Automaticamente olhamos para o braço onde fica o relógio mesmo que não estejamos com ele. Criamos um roteiro do caminho que faremos para ir de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Todos os dias fazemos muitas coisas sempre iguais. Sem criarmos tais padrões, teríamos muito mais trabalho, é verdade. Certos atos são assim mesmo: automáticos. E precisam ser. Não há necessidade de grandes reflexões para se colocar a pasta de dente na escova, para ensaboar o corpo para frente e para trás, para ligar os cadarços do sapato em um laço. Foi preciso aprender cada pequeno gesto até chegarmos a essa performance atual que nos facilita a vida.

Porém, nem todos os atos do cotidiano precisam ser automáticos. Por que insistimos em partir o cabelo sempre do mesmo lado, falar o bom dia no mesmo tom, chegar e ligar a TV antes de conversar um pouco? Por que sempre pensar do mesmo jeito se existem tantas e inúmeras possibilidades? Sim, são muitas e incontáveis possibilidades. Nós escolhemos a qual queremos nos sintonizar. Criamos a rotina, depois somos engolidos por ela. Mas pode ser diferente.

Que tal, hoje, experimentar fazer diferente? Tirar do armário aquela blusa que achou que a cor lhe caía bem, mas teve vergonha de experimentar. Provar um novo penteado, um novo corte de cabelo, uma nova cor. Ousar conhecer outro lugar para o happy hour, fazer outro tipo de programa. Se sempre sai para barzinhos para conversar, que tal experimentar sair para dançar? Ou vice-versa. Ou se nem sabe mais o significado de sair com os amigos, arrisque redescobrir o prazer de estar perto das pessoas especiais de sua vida. Experimentar dormir um pouco mais tarde ou um pouco mais cedo. Ver um novo tipo de filme, ler um outro tipo de livro. Que tal folhear uma revista diferente? Quem sabe provocar reações diversas fazendo o trivial de outra maneira. Quem tal hoje tomar o mesmo banho à noite, mas com as luzes totalmente apagadas? Será que dá para fazer outro caminho além do habitual? Experimente. Pode ser que se surpreenda com uma outra praça, encontre um novo mercado, uma floricultura, um outro ângulo, um outro astral.

Sabe aquela viagem tão sonhada? Talvez seja a hora de tirar os planos da gaveta e colocar na ação. Sabe aquele hobbie antigo? Talvez ainda haja espaço para ele em sua vida, só precisa reorganizar as prioridades. Sabe aquelas pessoas que estão sempre do seu lado e que você acha que já sabem tudo que precisam saber? Já disse com todas as letras o que sente por elas? Talvez seja hoje o dia para deixar claro o amor que sente. E se, hoje, você experimentasse um outro jeito de interagir? Quem sabe perceberia um outro modo das pessoas também interagirem com você? Se você é sempre o falante, pode experimentar ouvir mais. Se é sempre o ouvinte, pode experimentar falar mais. Aquelas ideias de sempre, que tal colocá-las um pouco entre parênteses, e abrir outros canais de compreensão?

Pode parecer simples demais para despertar algo maior. Mas acredite, fazendo sempre as mesmas coisas, obtemos sempre os mesmos resultados. Um pequeno ato criativo nos dá energia para outros atos ainda mais criativos, num ciclo virtuoso. Um simples banho com as luzes apagadas promove tantas mudanças de padrões internos: nosso olfato se amplia, o tato fica mais sensível, a audição aguçada, nossa consciência corporal acorda. E se além de apagarmos as luzes acrescentarmos outros estímulos, o que pode acontecer? Se ao invés do mesmo sabonete, usarmos outro mais cheiroso? E se acrescentarmos um óleo de banho, como a pele reagirá a essa diferente textura? Além disso, se colocarmos um som agradável, que nos desperte boas sensações? Assim um ato simples pode trazer sensações que andavam adormecidas ou que nem conhecíamos ainda.

Uma dose extra de ânimo pode nos visitar quando nos abrimos para a vitalidade das coisas novas, das maneiras infinitas de agir, pensar e sentir. Se um dia aprendemos os padrões que nos governam agora, podemos escolher outras formas e sermos agentes na própria vida.

Experimente algo diferente e preste atenção aos resultados! Permita-se a supresa.


Publicado em: Especial "Viver com Sabor", parceria Kibon e Personare

http://www.personare.com.br/revista/viver-com-sabor/materia/352/que-tal-um-pouco-mais-de-ousadia

Por Juliana Garcia
Psicóloga, psicodramatista, escritora, colaboradora da Revista Personare, coordena atividades voltadas para saúde e bem-estar no Espaço Revitalizar em Belo Horizonte-MG.

O valor terapêutico da amizade

Que é bom estar junto dos amigos ninguém duvida. Mas será que refletimos sobre os significados mais profundos da verdadeira amizade? Que sentimento é esse que une pessoas diferentes, que ultrapassa limites e distâncias?

O verdadeiro amigo é alguém com quem podemos expressar nossos sentimentos mais íntimos e ao mesmo tempo é aquele com quem somos capazes de compartilhar o silêncio sem constrangimento. É a pessoa com quem se deseja estar nos piores e nos melhores momentos. A verdadeira amizade é terapêutica em muitos sentidos, mas não se mantém pela utilidade que venha a ter. Porque chamamos de amigo aquele a quem simplesmente amamos e somos por ele amados. Assim, sem grandes explicações, não cabendo em predefinições.

No laço de amizade queremos ver o outro bem, queremos presenciar seu crescimento, compartilhamos suas dores e alegrias, estamos ao lado. O amigo é aquele que nos aponta o que precisa de cuidados, que nos diz às vezes palavras duras com a intenção de que sejamos pessoas mais plenas. Em outros momentos ele nos traz palavras doces, equilibrando nosso modo duro demais diante de algumas situações. O amigo é aquele que parece sondar o mais profundo em nós, ele vem com seu jeito único e nos apresenta um outro lado. Ou simplesmente cala para que nós possamos ouvir nossas próprias palavras ecoarem. Oferece o ombro, os ouvidos e o coração.

O amigo é aquela pessoa que faz parte de nossa vida, porém não o possuímos. Com ele aprendemos que o outro é como é, aprendemos a aceitar e a amar incondicionalmente. Nesse vínculo vamos aprendendo as relações de paridade, em que não há autoridade a seguir, mas sim respeito a compartilhar. Aprendemos a resolver questões em conjunto, a expor o que sentimos, a perceber melhor quem somos. Com a troca de experiências o humano se revela e percebemos que somos parte de um todo muito maior, que não somos os únicos a sentir, a sofrer, a sorrir. A amizade nos faz amadurecer e nos ajuda a rever nossos modos de relacionar.

Nessa relação deixamos de ser mais um na multidão que se espreme nas ruas da cidade. Somos mais que números, registros e letras. Somos pessoa, carregamos uma história. Temos uma testemunha. Ele vê os degraus que subimos, as pedras em que tropeçamos, a hesitação, a coragem. Ele acompanha, oferece seu olhar, a sua opinião ou o necessário apoio. No vínculo de amizade sabemos que a existência do amigo é a garantia de um “Estou aqui”, uma frase aparentemente simples, no entanto, permeada de presença e companhia.

Por tudo isso (e por tudo o mais que não cabe nas palavras) é que lhe convido a refletir: Você está próximo de seus amigos com a freqüência desejada? Você encontra tempo para estar com eles, assim como reserva tempo para outras atividades cotidianas? Ou o amigo deixou de ser parte de seu cotidiano? Passou a integrar o campo do extraordinário só participando de datas marcadas? Precisamos instaurar espaço em nossas vidas para momentos de prazer, de troca, para rir e chorar junto, para escolher promover a participação mútua nos acontecimentos.

Por mais que nasça sem grandes explicações, sem motivos explícitos e declaráveis, a amizade só se mantém quando cultivada. Ela se renova a cada momento de presença. Um telefonema, um encontro mensal, enviar um e-mail, marcar um almoço no meio da semana, sem motivo utilitário além da grande razão: queremos nutrir algo que é especial, queremos ver a amizade florescer, queremos estar junto.

Precisamos encontrar espaço para a vida social, que na origem etimológica da palavra carrega o sentido de associação, de fraternidade, de comunhão entre iguais. Vida social em sua concepção mais ampla, de estar junto dos que são nossos irmãos da alma. Isso faz bem para nosso coração, para o coração amigo e para a amizade que se fortalece gerando mais e mais frutos.

Publicado em:
Especial "Viver com Sabor", parceria Kibon e Personare

http://www.personare.com.br/revista/viver-com-sabor/materia/308/o-valor-terapeutico-da-amizade

Por Juliana Garcia
Psicóloga, psicodramatista, escritora, colaboradora da Revista Personare, coordena atividades voltadas para saúde e bem-estar no Espaço Revitalizar em Belo Horizonte-MG.

Autoestima: reconheça como tem cuidado de si mesmo


Quando a gente gosta de alguém, como costuma tratar essa pessoa? No mínimo, com delicadeza, carinho e atenção, não é verdade? Se essa pessoa precisar de cuidados, ofereceremos. Se ela precisar ser ouvida, nos esforçaremos para ouvi-la. Buscaremos compreendê-la, tentaremos entender o que ela está comunicando. Não a encheremos de julgamentos, rótulos e cobranças. Ao menos isso é o que se espera quando verdadeiramente gostamos de alguém...

Se alguém que estimamos adoece, nos preocuparemos e faremos o que estiver ao nosso alcance para auxiliar. Se porventura notarmos que seus hábitos estão prejudicando sua saúde física ou mental com certeza iremos alertar, ajudar, sentar junto e pensar alternativas. Porque é natural observar quem a gente ama. Porque é normal que se cuide de quem a gente gosta.

Levaremos essa pessoa a lugares agradáveis, nos importaremos em reconhecer seus gostos e ficaremos satisfeitos em vê-la contente. Se um dia a magoarmos nos importaremos com seus sentimentos, pediremos desculpas sinceras e com certeza buscaremos não repetir o que a magoou.

Tudo isso é o que se espera de uma relação de respeito e de amor, não é mesmo? Repense agora essas situações colocando você mesmo no lugar dessa pessoa querida que imaginamos até aqui:

- Você se importa com seus próprios sentimentos e necessidades?
- De vez em quando se convida para passear e viver situações que lhe deixam feliz?
- Importa-se com sua saúde física e mental, mobilizando meios para que ela esteja sempre em dia?
- Pede-se perdão? Perdoa-se e busca não mais repetir o que lhe magoa?

Isso é autoestima: gostar de si mesmo e agir como tal. Quem gosta de si mesmo faz tudo isso que se espera que façamos ao outro quando o estimamos. Não se trata de egoísmo, nem de se achar melhor que o outro. É apenas oferecer a si mesmo aquilo que é bom, que faz bem, que faz crescer e ser mais feliz.

Para desenvolvermos a autoestima precisamos nos conhecer, caminhar enfrentando o medo do novo e partir rumo à descoberta desse ser cheio de possibilidades que somos nós, humanos. Muitas vezes somos treinados ou nos treinamos a não reconhecer que somos capazes ou merecedores de amor.

Precisamos olhar para isso e tratar, com muito carinho. Às vezes até estamos nos esforçando, porém volta e meia nos pegamos repetindo as mesmas crenças limitadoras. O que faríamos a alguém querido se o encontrássemos nessa situação? Provavelmente lhe daríamos a mão e caminharíamos um pouco ao seu lado, demonstrando que ele não estaria mais sozinho. Você está com você mesmo? Ou se abandona ao menor deslize? Ou atira pedras ao menor sinal de erro?

Mesmo que de início não flua naturalmente (afinal fomos muito bem treinados para atirar pedras, mas pouco treinados a dar um afago e estender a mão para nós mesmos), tente observar no cotidiano o que pode oferecer a si mesmo com amor. Nas pequenas coisas podemos demonstrar tanto! Reflita: o que você pode fazer hoje, agora mesmo, para demonstrar estima a si mesmo? Talvez marcar aquela consulta sempre adiada ou telefonar para uma pessoa com quem se sinta à vontade para conversar. Talvez possa retomar um projeto ou cuidar melhor da alimentação. Quem sabe anotar as suas qualidades para não perdê-las de vista ou tomar uma atitude diante de situações que estejam lhe fazendo mal. A cada dia você pode ampliar o leque de práticas. Sempre tendo em mente que você pode tropeçar ainda assim, de vez em quando vai se pegar se boicotando, mas que isso não lhe retira todo o mérito da caminhada.

Estima se constrói. Com a autoestima não é diferente. Usufrua de sua companhia e inicie essa relação de amor que pode ser muito, muito frutífera!

Publicado em:

http://www.personare.com.br/revista/identidade/materia/224/aprenda-a-construir-sua-autoestima

Por Juliana Garcia
Psicóloga, psicodramatista, escritora, colaboradora da Revista Personare, coordena atividades voltadas para saúde e bem-estar no Espaço Revitalizar em Belo Horizonte-MG.

Alguma mágoa lhe prende ao passado?

Nem todos na vida foram acompanhados por uma família zelosa e presente. Às vezes há até presença, mas falta contato, olhar, diálogo, falta a sensação de ser visto e de ser importante para o outro. A qualidade de nossas relações é o que mais importa. Muito comum é que na ausência busque se suprir a falta com valores materiais. Subverte-se o amor, os sentimentos, o cuidado da alma. Muito comum também é a ausência total ou uma presença prejudicial, que oferece modelos distorcidos, que fere e magoa.

Com tantas marcas, algumas pessoas se perguntam: "Como posso ser feliz? Como seguir em frente se tanto peso me prende ao passado?"

Mágoa é um peso mesmo, que nos faz afundar nas águas do sofrimento, do "não consigo", "não dou conta", "não posso confiar". Quanto mais mexemos na ferida mais ela dói. Mas se deixarmos de simplesmente "cutucar" e passarmos a tocá-la para lhe fazer os curativos necessários? O ardor será diferente? Talvez quem tenha sofrido a dor de suas feridas por muito tempo, relute de início, se encolha ou até reaja agressivamente. Porém, se der abertura, perceberá que, por mais que seja dolorida, a dor da limpeza, de passar os remédios e aplicar os curativos compensa, porque acaba por diminuir a dor constante do que está doente e sem cuidados. É dor menor do que simplesmente remexer a ferida.

As dores e as feridas que remetem às nossas raízes são realmente difíceis. Por isso mesmo, precisamos cuidar delas com maior carinho. Por vezes, se não tivemos figuras de cuidado é complicado sermos bons cuidadores para nós mesmos, é complicado nos respeitarmos, nos auxiliarmos. Porém dentro de todos nós há um centro que nos diz que precisamos e merecemos mais. Essa é nossa face cuidadora e saudável e que precisamos reconhecer, dando espaço para que ela se manifeste em nossa vida.

Não há fórmulas prontas de como curar nossas feridas e nos libertarmos de nossas mágoas. A busca por ajuda profissional e começar a fazer terapia pode ser um bom início de caminho. Assim podemos nos conhecer melhor, compreender nossa história e construir novas possibilidades. Além disso, existem muitas formas de nos cuidarmos que podem ser aliadas de nossa cura. Preparar nosso coração para conversas libertadoras, ir em busca das raízes, reconhecer que talvez o outro também seja uma vítima e colocar-se em seu lugar, estabelecer limites saudáveis, exercitar a vivência do agora sem se deixar confundir pelos medos do passado ? tantos caminhos possíveis que podem se complementar. Um passo de cada vez, iniciando por cuidar dos próprios sentimentos, reconhecendo-os e buscando auxílio para os próximos passos.

Toda planta precisa de raízes saudáveis para seguir seu crescimento. Alguns podem olhar para uma plantinha de raízes castigadas, pouco profundas, ressecadas e pensar: "Não tem mais jeito". Outros são capazes de reconhecer seu potencial adormecido. O solo pode estar sem nutrientes, a quantidade ou qualidade da água pode estar inadequada, talvez seja necessário fazer algumas podas, alguns ajustes. Mas ali está a base e o potencial de vida. As feridas mostram o que precisa ser curado. Conosco também é assim: precisamos olhar para nossas raízes e cuidar para continuarmos a crescer. As nossas marcas não indicam que não tem mais jeito, mas sim mostram o que precisa ser curado.

Se você tem marcas em suas raízes familiares, trate de reconhecê-las e cuidar delas. Olhe para suas raízes, não ignore sua importância, nem deixe que suas marcas determinem a impossibilidade. Elas são as bases e se você cuidar bem disso poderá seguir crescendo e se desenvolvendo, sem pesos que lhe joguem para baixo. Não é fácil, não é simples, mas é necessário. Acredite em seu potencial de vida!

Publicado em:

http://www.personare.com.br/revista/familia/materia/221/alguma-magoa-lhe-prende-ao-passado

Por Juliana Garcia
Psicóloga, psicodramatista, escritora, colaboradora da Revista Personare, coordena atividades voltadas para saúde e bem-estar no Espaço Revitalizar em Belo Horizonte-MG.

Menos reclamação, mais ação


Cada vez mais escutamos as pessoas reclamarem do ambiente de trabalho. Ora é o chefe que é um autoritário, ora é o colega que atrapalha, ora são as condições que não contribuem. Cotidianamente ouvimos mais e mais pessoas tecerem mais e mais reclamações, que parecem nunca ter fim. Pense em seu círculo social: quantas pessoas você já ouviu falar que gostam do que fazem? E quantas você já ouviu reclamar?

A verdade é que nessa onda da reclamação, pouco ou nada aparece sobre o que tem sido feito pela própria pessoa na construção de uma melhor relação com seu trabalho. São as atribuições de sua função que lhe desagradam? São as relações com os colegas? O que de efetivo já foi feito para modificar a situação? No final das contas, achando que estamos só expondo os acontecimentos vamos, na verdade, protelando a ação.

Além disso, reclamar faz também com que tudo ligado ao trabalho se torne aversivo.Ir todos os dias para um local em que nos sentimos mal, nos faz sentir ainda pior. Uma coisa alimenta a outra. Algo que de início já não nos satisfazia, à medida que reclamamos sem nada fazer, acaba por nos afogar em mais insatisfação. E não é raro que desta maneira as relações piorem, nossa produtividade caia, nos sintamos ainda mais insatisfeitos e até adoeçamos. Nosso corpo grita: "Preciso sair desse lugar!"

O que lhe incomoda hoje em seu trabalho? Pare e reflita mais seriamente sobre isso. Muitas vezes colocamos o problema no outro, dizemos que se ele mudasse tudo seria melhor. Esperar pelo outro nesse tipo de situação é frustrar nossas expectativas e ir por um caminho que nos manterá no mesmíssimo lugar. Investir em sua qualificação, manter uma postura mais reservada ou pelo contrário se enturmar mais, compenetrar-se em fazer um bom trabalho, ser mais participativo, procurar por outras vagas que atendam às suas necessidades... Existem muitas possibilidades que somente você pode tomar nas mãos para ter uma vida profissional mais plena e realizada.

O que você almeja?Como você tem se cuidado? Como anda a sua vida pessoal, a sua saúde, os seus projetos? É importante pensar se também não estamos depositando no trabalho todas as frustrações, todas as necessidades que nós mesmos não atendemos. A vida é uma conjunção de experiências em uma série de campos. Somente um campo não pode suprir todas as nossas necessidades de amor, de reconhecimento, de realização.

Pergunte-se:
Será que não estou esperando do trabalho algo que deveria desenvolver melhor em outro campo da minha vida?
Será que estou deixando de desenvolver no campo do trabalho algo que deveria ser preenchido aqui?

Nem sempre encontraremos grandes amigos no ambiente de trabalho, nem sempre ouvirão nossas idéias como as mais adequadas, nem sempre as pessoas estarão abertas a considerar o nosso lado. E isso não pode nos destruir. Precisamos tirar das dificuldades lições para nosso crescimento, no sentido mais amplo. Deixar de alimentar o fogo da discórdia, do ressentimento, da reclamação dentro de nós já é um importante passo para deixarmos de nos envenenar com emoções que não nos favorecem.

Sem esses venenos enxergamos melhor o que almejamos, o que nos é oferecido e podemos melhor planejar que caminhos trilhar. Talvez nossas reflexões culminem em pequenas mudanças, como nos atentarmos mais no que precisamos fazer e menos nos comentários dos outros, ou resultem em grandes guinadas como a mudança de emprego, de profissão ou do nosso modo de viver a vida.

Vamos começar agora mesmo a refletir, a exercitar o autoconhecimento e partir para a ação consciente em busca do nosso bem-estar. Menos reclamação, mais ação!

Publicado em:

http://www.personare.com.br/revista/carreira-e-financas/materia/198/menos-reclamacao-mais-acao

Por Juliana Garcia
Psicóloga, psicodramatista, escritora, colaboradora da Revista Personare, coordena atividades voltadas para saúde e bem-estar no Espaço Revitalizar em Belo Horizonte-MG.

Mulheres que cuidam de mulheres


São crescentes os movimentos de cuidado de mulheres em relação a outras mulheres. Em associações, em organizações governamentais e não governamentais, em grupos terapêuticos, em propostas holísticas, em movimentos políticos notamos cada vez mais a união de mulheres em prol das mulheres. Não se trata de algo novo em essência, mas talvez tenha ganhado um pouco mais de visibilidade. Quem nunca ouviu histórias de avós que se uniam com suas comadres na criação dos filhos, para bordar, trocar receitas e mais que isso para compartilhar toda uma vida, formando uma verdadeira rede muitas vezes silenciosa ou silenciada por uma sociedade que sufocava e anulava a sua expressão... Os risos, as lágrimas, os sonhos por muito tempo ficaram reservados à beira do fogão à lenha, ou às margens do rio onde se lavavam a roupa e a alma. Hoje talvez se perceba com mais clareza a importância desses espaços de troca, de abertura, de compartilhar e as mulheres tenham buscado mais conscientemente por algo assim.
Vemos mulheres que tomam a iniciativa de proporcionar algo a mais, mulheres que criam oportunidades e convidam outras a dividirem com elas esse pão de vida. Sem um espaço onde possamos ser aceitas - em nosso silêncio ou em nosso falar - nos sentimos sufocadas, aflitas, tristes e sem viço. Parece que algumas mulheres percebem isso no mais fundo da sensibilidade de sua alma e não sossegam enquanto não encontram um meio de expressão para ela e para as outras. 

Ali, no caos que se instala nesse sufocamento, nessa sensação de vazio ou até de transbordamento muitas mulheres encontram as chaves, os instrumentos, os ingredientes para verdadeiras transformações alquímicas, para recomeços, para novos caminhos. No caos de situações que poderiam dilacerar, algumas mulheres descobrem força há muito guardada. E essa força chega para fazê-la respirar fundo o suficiente para encher seu corpo de energia e poder então seguir. Mulheres que retornam das cinzas, por vezes meio chamuscadas, mas que percebem em suas marcas sinais de que caminhos outros ela pode seguir, de que cuidados precisa tomar e para além de si percebem algo mais: existem outras tantas que também sofrem com as batalhas de todos os dias, existem outras tantas que nem força têm encontrado para lutar. Desperta assim mais que a energia para seguir sua trilha solitária, mas também a noção de que é preciso se unir a outras mulheres, de que é preciso que cuidemos umas das outras.

Quanto dessa energia já habita dentro de mim, de você e andamos buscando aí fora? Quantas dessas mulheres estão aqui nas colunas do Absoluta e Yinsights? Quantas dessas mulheres estão lendo agora esse texto? E quantas dessas mulheres não escrevem, não leêm, mas têm a suprema sabedoria em seus corações e encontram-se por aí nos mais distantes vales? 

Muitas vezes é só no saculejo do caos que silenciamos um pouco a mente, que nos vemos sem respostas prontas e o novo pode emergir. É no novo que tanto assusta que podemos encontrar as mudanças que almejamos, mas que fazendo sempre as mesmas coisas não conseguimos alcançar. Que saibamos deixar espaço para que essa força escondida dentro de nós resplandeça. Que permitamos que a mulher oculta dentro de nós possa vir à luz e cuidar de nossas feridas, uma mulher cuidando da outra como primeiro passo dessa ciranda. 

Publicado em:
http://yinsights.blogspot.com/2008/10/mulheres-que-cuidam-de-mulheres.html


Por Juliana Garcia
Psicóloga, psicodramatista, escritora, colaboradora da Revista Personare, coordena atividades voltadas para saúde e bem-estar no Espaço Revitalizar em Belo Horizonte-MG.

Nem mulher-maravilha... Nem donzela-na-janela...

Quantas vezes atropelamos e desconsideramos o sinal de que seria preciso dar pausa? Quantas vezes nos esquivamos de vivências importantes por querermos esperar o tempo em que estaremos "prontas"? Em cada um desses extremos, perdemos de vista o que realmente importa.

De um lado, o corre-corre: o relógio como um oponente cruel com quem acreditamos travar uma luta. Esse jogo, porém, tem cartas marcadas e quem costuma sair perdendo é nossa energia, nossa saúde, nossas relações. Luta-se contra as linhas no rosto, luta-se contra os sinais de fadiga, luta-se contra os limites.

O mundo acelerado gera publicidade e nela se vende a idéia de que aquele que não acompanhar o ritmo imposto ficará pra trás. Mas qual será o fim dessa viagem? Dá tempo de pensar se quero isso para mim? São tantas horas preenchidas na agenda que, quando temos uma folga, precisamos logo pensar com o que iremos preencher. Não há tempo para estar consigo mesma, para viver os ciclos naturais, e não apenas seguir adotando o que se vende como o ideal.

Outra postura é a que usa o tempo como fuga. Em algumas situações, nos pegamos escondidas por trás de justificativas cabíveis racionalmente, mas que servem, no fundo, à vontade de tudo controlar, ao orgulho que não admite erros, ao medo de não ser boa o suficiente. Esperar estar pronta, em muitos momentos, é uma maneira secreta de esconder o que ainda não sabemos com uma máscara do tipo: "oh, sim, sei dar tempo ao tempo", quando se poderia dizer na realidade: "não vou me expor, enquanto não tiver plena certeza". E essa certeza, quando chegará? Enquanto não chega, vamos vivendo pedaços.

Quaisquer desses caminhos me parecem meios de fugirmos do agora. Esse misterioso tempo que nos escapa cada vez que tentamos controlá-lo é o único tempo no qual é possível criar, agir, viver. Correr loucamente atrás do amanhã nos torna mulheres mais cansadas, envelhecidas (e não maduras), indispostas, estressadas. Fugir loucamente do hoje nos torna alienadas e nos deixa com a sensação de que nada podemos.

Nos desafios vividos no presente é que descobrimos que esse é o único caminho que podemos trilhar. É imprescindível um horizonte que se deseje alcançar, mas é preciso também pisar no chão que está imediatamente debaixo dos pés para que se possa chegar a algum lugar.

Escolher o caminho da alma não equivale a seguir um caminho de facilidades mas, sim, construção e renovação constantes. É sempre se ver a caminho, é sempre notar que há algo mais de misterioso e de essencial a se descobrir.

Sentir essas conclusões em minha vida me fez estar mais presente, mais inteira. Tenho respeitado as pausas pedidas pelo meu corpo, pela minha alma, pelo que me cerca. Tenho buscado me aproximar dos desafios nos quais nem sempre estarei com o controle em minhas mãos, me lançando em terrenos desconhecidos para poder conhecê-los.

Em nosso íntimo há fome e sede de beleza, de amor, de conhecimento. Há muitas fomes, algumas guardadas, outras sufocadas. Mas basta lançarmos atenção para o que está aqui dentro e tudo isso desperta! Em alguns momentos podemos até ficar um pouco zonzas e ansiosas. É porque nos damos conta de que estivemos famintas por um longo tempo.

São tantas fomes e sedes, cada uma de um elemento: flor, mapa, luz do sol, frio da lua, batalhas, cafuné... E cada uma carece se expressar e se realizar no mundo.

Não devemos travar uma luta desenfreada contra o tempo. Pelo contrário, é indispensável organizar internamente tanto sonho, tanta possibilidade ou acabamos assim tão fascinadas que paralisamos.

Precisamos vivenciar o passo-a-passo, os ciclos, encontrando o equilíbrio entre caminhar contra o tempo ou usá-lo como escudo deixando tudo sempre para depois. Nem mulher-maravilha, nem donzela-na-janela. Em cada um desses extremos acabamos deixando de viver de maneira absoluta o hoje e suas possibilidades de crescimento.

Como você viveu suas últimas horas? Como pretende viver as próximas? Refletir sobre nosso ritmo é um importante passo para escolhermos que tipo de vida queremos levar de agora em diante.

Publicado em:

http://www.absoluta-online.com.br/conteudo_yinsights_reflexoes_juliana.html

http://yinsights.blogspot.com/search/label/Juliana%20Garcia

http://re-vitalizar.blogspot.com/2008/03/nem-mulher-maravilha-nem-donzela-na.html

A Sua Beleza



Estamos cercadas por um sem fim de convites. Imagens, palavras, cores, promessas que carregam muitas mensagens, várias delas contraditórias entre si. Quem disse que nosso mais pleno prazer e nossa realização se restringem a alguma das limitadas opções apresentadas?! O fato é que muitas mulheres correm atrás dessas prometidas luzes no fim do túnel, sem se perguntarem quem construiu tal túnel, como foram parar lá, que tipo de luz está piscando e o que as aguarda se seguirem esse convite.

Vivemos num mundo guiado pelo artificial, ou seja, estamos cercadas por artifícios. Tão aderidas acabamos a estes que, em sua ausência, nos sentimos partidas. Sem o batom, sem o brinco, sem o anel, sem o sutiã do modelo x, sem silicone, sem o secador, sem o rímel, sem o esmalte, parecemos estar sem chão. Cada artifício passa a fazer parte da imensa máscara que construímos para dizermos ao mundo quem somos - ou quem acreditamos precisar ser.

Alguém (ou "alguéns"?) determina o modelo de corpo ideal, os acessórios, os adereços, a postura e o corte de cabelo ideais e muitas mulheres seguem sem sentir o que lhes corresponde ou não nessa história toda. Muitas sofrem por não poderem atender à moda, por não terem em si os padrões que são valorizados a cada momento. Se não os tem, compra. Se não pode comprar, está de fora. Se está de fora, não é ninguém.

Beleza construída em photoshop, beleza amarrada entre cintas, beleza alisada no calor, beleza conquistada na dor, beleza que não pode entrar em contato nem com água nem com vento nem com calor nem com frio, beleza que atropela a saúde, beleza que serve de vitrine, beleza vendida, beleza roubada. Que tipo de beleza realmente almejo?

Olhando-me no espelho, o que vejo de verdadeiramente meu? Se mudo a cada estação ao sabor das tendências externas, qual é o centro disso tudo? O que de fato faz parte de quem sou?Mais perguntas...Quantas mulheres magras queriam ser robustas há alguns séculos atrás? Quantas mulheres de seios fartos queriam que eles sumissem, há algumas décadas? E quantas agora correm atrás de uma prótese para estufar os seios? De todas, quem estará vivendo plenamente o presente, aceitando e cuidando do corpo que se tem? Esperaremos a próxima tendência para navalhar nossas carnes mais uma vez? Cabe perguntarmos também a que/quem serve tudo isso...

Verdadeiras assombrações sem expressão - Encobrimos nossos aromas, maltratamos nossas madeixas, descuidamos de nossos ciclos, nos rendemos a comportamentos que nos afastam do convívio com as pessoas, perdemos o instante correndo atrás de uma perfeição futura, entupimos a pele de cremes que esticam e puxam... Em muitos casos, tanto se estica e puxa que o efeito é o oposto do desejado: criam-se verdadeiras assombrações sem expressão.

Vamos nos perdendo de nós mesmas. Deixamos de ouvir, sentir, cuidar, nutrir, respeitar o corpo que é nossa morada e ponto de partida para nosso estar no mundo. Tão distraídas, perdemos nossa saúde integral de vista. Saúde que inclui beleza, bem-estar, abertura ao mundo, auto-cuidado, harmonia... e muito mais.

Nossas relações ficam sem sentido, o outro se torna um olho que serve para nossa auto-afirmação vazia. Vamos nos guiando pelas externalidades e deixamos de manter acesa a chama da beleza real, inteira, que transcende o tempo. A beleza que convida ao encontro, que nos faz querer estar perto, contemplar, compartilhar, que está no nosso olhar, no nosso toque, no nosso modo de relacionar. Beleza que se reabastece com cada ato de cuidado que temos conosco e que igualmente perde força à medida que descuidamos do essencial. Sem auto-estima, ou seja, sem estimar a si mesma, não há beleza que se sustente, porque não haverá parâmetro para escolher o que é ou não bom para si.

É preciso nos reconectarmos com a fonte de toda a beleza, que está dentro de nós, que independe de padrões, visto que nasce da singularidade, que independe de artifícios pois nasce da nossa natureza.

Que nos enfeitemos, sim, mas que mantenhamos viva a certeza de que somos mais do que os enfeites e que a beleza real está na mulher que sustenta a flor entre seus cabelos. Independente da aparência de outras mulheres, independente do olhar do outro, independente dos padrões vigentes, a sua beleza está em você e é única. Ela não está longe, nem perto, ela simplesmente está em você à espera de sua atenção e de seu reconhecimento.

Publicado em:

http://absoluta-beleza.blogspot.com/2008/09/t-fim-de-perder-vida-correndo-atrs-da.html

http://www.mulherespecial.com/profiles/blogs/a-sua-beleza (Meus textos lá são encontrados através da aba Colunistas - Psicóloga)


http://www.textolivre.com.br/joomla/index.php?option=com_content&task=view&id=11778&Itemid=48

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