Está cansada de ser boazinha?


Boa parte das mulheres é educada para ser boazinha. Essa educação inclui as obrigações de sempre dizer sim, ser obediente, ter os chamados “bons modos”, não dizer o que pensa, abaixar a cabeça, não questionar. Alguém nos disse que quanto mais boazinhas formos, mais elogios e aprovação ganharemos. E vamos aprendendo que só isso basta. Resumindo, é o que nos diz o célebre ditado: “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.

Deixamos de lado a insatisfação, engolimos em seco a indignação, calamos o desejo, deixamos para depois nossas necessidades, tudo por acreditarmos que o que mais importa é a aprovação do outro. Um primeiro erro está em acreditar que a aprovação é pagamento garantido por todos os nossos sacrifícios. Na maioria das vezes, nem reconhecimento obtemos, não é verdade? O problema é que vira um ciclo vicioso, em que quando não ganhamos aprovação, mais boazinhas queremos ser até conseguir um pequeno elogio que seja. Mas se ganhamos aprovação, aí também queremos ser mais boazinhas, para continuar a sermos vistas com “bons olhos”. Nessa segunda perspectiva há outro erro: apostar nessa aprovação que se baseia na negação de quem somos.

Nessas situações o que o outro está vendo não é a nossa verdade, mas sim a nossa máscara. Sabemos bem que não é tão simples se libertar de um processo complexo de aprendizado que nos foi passado durante toda a vida. Dá um frio na barriga dizer não, o medo da rejeição parece engolir você por inteiro e a sensação de culpa pode ser enorme. De tanto alimentar as fantasias, acreditamos que elas são verdadeiras. Por isso, fica difícil dar o primeiro passo. Fica difícil desapegar daquilo que acreditamos nos dar segurança.

Desafiar nossos velhos e conhecidos padrões pode ser difícil a princípio, mas com certeza o resultado é compensador. A cada novo passo nos fortalecemos e geramos um ciclo virtuoso (e não vicioso), onde cada pequena vitória nos dá mais ânimo para o passo seguinte. Experimente dizer não às pequenas coisas que lhe desgastam e lhe fazem se sentir mal. Diga não à programação que não lhe agrada, abandone o sapato que lhe machuca, não atenda ao telefone na hora inoportuna, deixe de lado a vergonha e procure aquela atividade que você gostaria de iniciar, diga não ao pensamento de inferioridade, demarque os limites.

É preciso tornar-se consciente de si mesma, se conhecer, se reconhecer para conseguir escolher o momento de dizer sim o de dizer não. Além disso, é preciso assumir que a vida é feita de perdas e ganhos: não podemos agradar a todos, nem dar conta de tudo. Para manter um não, você necessitará de firmeza e tal firmeza que vem da autoestima e do vigor de se sentir merecedora da felicidade. É preciso resgatar seu poder pessoal!

Ser boa para você e menos boazinha para os outros é assumir uma postura adulta e assertiva. Ser boazinha é um termo que já carrega nesse diminutivo uma postura ligada ao pequeno, ao infantil, ao inferior. Trilhar o caminho da real bondade é se incluir nas considerações para fazer escolhas, é abrir-se para uma autenticidade nas relações.

Tanto um sim quanto um não bem dados (ou seja, caminhando em harmonia com aquilo que você é e aquilo que você sente) podem apontar para o caminho do ser e abre portas para verdadeiros encontros nas relações.
Tire o foco de ser sempre boazinha para os outros e seja realmente boa, compreensiva e amorosa consigo mesma, hoje, agora, já.

Publicado em:

http://www.personare.com.br/revista/identidade/materia/1283/esta-cansada-de-ser-boazinha

Por Juliana Garcia
Psicóloga, psicodramatista, escritora, colaboradora da Revista Personare, coordena atividades voltadas para saúde e bem-estar no Espaço Revitalizar em Belo Horizonte-MG.

Um comentário:

Ler e Amar disse...

Nossa, seus textos funcionam como uma terapia, um parar e repensar... Adorei esse texto também!!!!

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