Indo além das amarras da dependência


Conhecemos a dependência nos primeiros estágios da vida, quando éramos totalmente dependentes do outro, desde o atendimento às nossas necessidades mais básicas e até às emocionais. Ali dependíamos do outro para cuidar de nós, para nos ajudar a entender o mundo e a lidar as reações de nosso corpo, para dar nome às nossas emoções. A dependência tem sua razão de ser nesses primeiros estágios da vida, onde ainda não desenvolvemos nossas capacidades. No entanto, estar preso a ela ainda na fase adulta é reflexo de que não se está seguindo a diante em seu desenvolvimento, é permanecer emocionalmente na infância.

Vamos aprendendo a ser mais autônomos à medida que ganhamos maior consciência de nossas ações. Ao chegar à vida adulta alcançamos a tão almejada liberdade. Porém esta sempre vem atrelada à responsabilidade: somos livres para escolher e responsáveis pelo que escolhemos. Aí se instala o problema: todo mundo quer a liberdade, mas a maioria sente pavor da responsabilidade! Algumas pessoas às vezes até abrem mão da liberdade, deixam que o outro decida por elas, para não precisarem lidar com as consequências dos próprios atos. Porém, ainda assim, estão fazendo uma escolha: a de não tomar a vida nas mãos, e com certeza essa escolha tem sérias consequências.

Reconhecendo os padrões limitadores

O padrão da dependência pode carregar consigo os padrões de medo, baixa autoestima, comodismo, receio do novo, insegurança. Para superar tais padrões arraigados, o ponto de partida é o autoconhecimento. Ele auxilia a reconhecer as amarras, as dependências que se tem de pessoas e situações, bem como as crenças limitadoras que estão por trás disso. Aliás, é necessário reconhecer que a dependência é sempre um padrão limitador: ela limita o crescimento pessoal, barra a noção de que se é um ser individual e responsável pela própria vida.

Mas é bom lembrar que o ideal para nossa inteireza também não é a independência total e irrestrita, pois esta muitas vezes funciona como uma autoafirmação do tipo “eu me basto”, um centramento em si mesmo de maneira defensiva, um fechamento extremo com traços também infantis.

Encontrando equilíbrio

Somos seres relacionais, isso é fato. Os vínculos são essenciais para o nosso desenvolvimento e nos fazem aprender muito, além de poder nos trazer satisfação. É necessário dar a devida importância à autonomia, acolhendo a relação entre liberdade e responsabilidade. E faz parte de assumir a autonomia aceitar que apesar de as pessoas com quem nos relacionamos poderem nos trazer muitos aprendizados e muitas sensações agradáveis, não é responsabilidade delas nos prover de felicidade e prazer. 

Melhor é conquistar um equilíbrio sadio através da interdependência: eu afeto o outro e o outro me afeta, temos uma ligação, mas somos seres inteiros acima de tudo. Assim se rompe com a ideia de “cara metade”, “carne e unha”: sou inteiro, não preciso de um outro que me complete. A presença do outro acrescenta, modifica, amplia, mas não significa que sem ele “eu não sou”, e vice-versa.

A relação de dependência é de domínio e poder, há necessidade de posse, é uma relação vertical. A relação de interdependência é de paridade, de companheirismo, não anula, não possui, é uma relação horizontal.

Por fim, o incentivo é: assumir a vida adulta (com todos os seus percalços e delícias), tomar a vida nas mãos, utilizando os recursos tão ricos da liberdade, da responsabilidade e das relações saudáveis.


Por Juliana Garcia
Psicóloga, psicodramatista, escritora, colaboradora da Revista Personare, coordena atividades voltadas para saúde e bem-estar no Espaço Revitalizar em Belo Horizonte-MG.

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